
Esse livro está há anos entre os meus favoritos do Stephen King (meu autor preferido de terror). Ainda assim, percebi que tinha esquecido boa parte da história, mesmo mantendo viva a lembrança do sentimento que ele me causou. Por isso, resolvi reler, e que história! Aqui, King mistura o terror sobrenatural com a crueldade humana, como costuma fazer tão bem.
Tudo começa com a morte repentina de Jo, esposa de Mike Noonan, logo após sair de uma farmácia. Ela cai no chão e morre sem explicação aparente. Enquanto lida com o luto, Mike encontra um exame de gravidez entre os pertences dela.
A descoberta levanta dúvidas. Ele percebe que estava tão absorto em seu trabalho que não viu o que se passava nos últimos meses da vida de Jo. Há algo estranho também em Sara Laughs, a casa de verão no Maine, onde costumavam passar os verões. Mas por que não foram para lá no último ano? Mike não consegue lembrar.
Luto, bloqueio criativo e uma casa cheia de memórias
Mike finaliza seu livro e mergulha no luto, não apenas pela esposa, mas também pela filha que estavam esperando: Kia. Depois de muitas tentativas, o casal finalmente teria um bebê. Os dias se tornam pesados. As noites, piores, marcadas por sonhos confusos com a esposa morta e a casa do lago.
Com bloqueio criativo, Mike começa a enviar ao editor textos antigos, escritos e guardados há anos. Mantém contato apenas com Frank, irmão de Jo, que tenta ajudá-lo a seguir em frente. Após alguns anos nesse estado, ele decide voltar a Sara Laughs.
Ao chegar, sente medo e apreensão. A casa, localizada na TR-90, uma região que nem cidade é, traz lembranças estranhas. Detalhes que ele só vira em sonhos agora aparecem na realidade. A população local o observa com curiosidade, mas ele continua sendo um forasteiro.
Novos laços, velhos fantasmas
Mike conhece Mattie e Kyra, mãe e filha que enfrentam seus próprios traumas. Mattie, de origem humilde, engravidou cedo do filho de Max Devore, o homem mais rico da região. Após a morte do marido, ela luta para manter a guarda da filha, enfrentando o avô paterno e o preconceito dos moradores.
Mike se aproxima das duas. Sente empatia, principalmente por causa do nome da menina, muito semelhante ao que ele e Jo escolheram para sua filha. No entanto, Devore não é o único problema. Outros homens da região demonstram incômodo com a presença dele, incluindo o caseiro da casa, que o ameaça.
O passado e o presente se misturam. Vivos e mortos também. Os eventos atuais parecem ligados a Sara Laughs e ao antigo grupo de cantores negros que viveu por lá. A própria Sara era uma mulher negra, mãe solteira, considerada “inadequada” pelos padrões da época. Usava roupas provocantes, era independente e, por isso, foi rejeitada pela comunidade local.
Uma história densa e cheia de significado
“Saco de Ossos” trata de temas muito atuais: machismo, racismo e desigualdade social. Como é costume de King, ele retrata a crueldade humana de forma crua. A narrativa mescla sonhos, lembranças e acontecimentos reais. Os personagens são bem construídos, inclusive os vilões e figuras ambíguas.
O início é difícil. A leitura se arrasta por muitas páginas sem grandes acontecimentos. Ainda assim, esse trecho ajuda a aprofundar o protagonista e a criar a atmosfera da história. Estimo que cerca de 20% do livro seja assim, exigindo paciência.
Mas quando a história engrena, ela flui. As perguntas surgem aos poucos, e as respostas são bem costuradas ao longo do enredo. Do meio para o fim, o ritmo se acelera de forma impressionante. Eu devorei o final do livro com empolgação.
Nota: 8,5 (seria 10 se não enrolasse tanto no começo).
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