
Um protagonista marcado pela dor e pela vingança
Fúria Vermelha, de Pierce Brown, é um livro que estampa na capa uma comparação com Jogos Vorazes e Guerra dos Tronos, criando expectativas, e embora essa comparação tenha um foco claramente mercadológico, possui um fundo de verdade. Afinal, uma sociedade distópica, intrigas políticas e traições inesperadas permeiam a história, mas com o diferencial de ocorrer no espaço.
As diferenças entre essas obras, no entanto, também devem ser ressaltadas. O foco da saga Red Rising está na vingança e na revolução, acompanhando exclusivamente o ponto de vista de um único personagem: Darrow, que está determinado a levar adiante os sonhos daqueles que ama e que se sacrificaram, custe o que custar.
A história se passa em um futuro não tão distante, em que a humanidade colonizou diferentes partes do sistema solar, estruturando-se em uma sociedade distópica baseada em castas. O protagonista está na base dessa pirâmide social e possui uma visão limitada do mundo, moldada para manter ele e seus conterrâneos sob o controle da elite. Uma tragédia marca sua vida para sempre, mudando sua perspectiva e suas opções, e o leva a desafiar as estruturas dessa distopia já decadente.
Construção de mundo e jogo de poder
O personagem principal, Darrow, é trágico e fascinante de acompanhar. Embora não seja o mais brilhante entre os jogadores nesse complexo jogo de intrigas, ele demonstra que suas experiências passadas o tornam capaz de ascender entre a elite e provar, tanto para si quanto para seus patrícios, que suas habilidades de liderança podem intimidar até o mais arrogante dos rivais.
Mesmo se destacando em diversos momentos, seu arco de amadurecimento é visível e envolvente. Afinal, por mais que se discuta o talento nato, ninguém nasce sabendo liderar ou elaborar estratégias, e Darrow aprende com rapidez, ainda que quebre a cara várias vezes ao longo do caminho. Isso, no entanto, não torna a leitura cansativa, pelo contrário: fortalece a conexão com o personagem.
Além do protagonista, os coadjuvantes também chamam atenção. O segredo de Darrow está em risco durante toda a história, e, embora alguns personagens revelem lealdade e amizade, em outros momentos deixam claro por que os poderosos são tão difíceis de remover do poder. Isso evidencia como os ideais de igualdade ainda estão longe de serem aceitos como verdade nessa sociedade, mesmo entre a elite mais progressista.
As reviravoltas acontecem de forma inesperada, e o ritmo da narrativa mal permite que o leitor respire. Os diálogos são diretos, mas o contexto confere profundidade a cada sentença. A velocidade com que Darrow se adapta a esses cenários reforça por que ele chega tão longe. O autor não precisa repetir que ele é incrível; o leitor percebe isso pelas situações das quais ele consegue sair, mesmo sendo evidente que ainda está longe da perfeição.
Temas fortes e um final promissor
Temas como igualdade, identidade e liderança são discutidos de forma mais explícita na obra, e é interessante notar que, mesmo que de forma superficial, até mesmo a ideia do Barco de Teseu é abordada. A verdadeira liderança é um tema central ao longo de toda a saga, já que se torna um pré-requisito para os objetivos do jovem Vermelho.
A igualdade também é apresentada como uma meta, mas suspeito que haverá desdobramentos complexos dessa possível revolução. O sistema vigente sobrevive da exploração dos mais fracos, e uma transição abrupta provavelmente resultaria em caos. Além disso, o protagonista, neste ponto da história, é como um cachorro correndo atrás de um carro: quando alcançar, talvez não saiba o que fazer. É necessário um amadurecimento para que as respostas façam sentido e para que ele possa, de fato, construir algo duradouro.
O primeiro livro não é perfeito, apresentando algumas reviravoltas que poderiam contar com mais foreshadowing para manter a coerência literária, mas cria um mundo interessante e personagens cativantes. A história termina no ápice do arco do protagonista, o que torna previsível a queda no início do próximo livro, mas a recompensa vale a espera. A recomendação é para todos que gostam de ficção científica com elementos de fantasia e que apreciam intrigas políticas temperadas com uma pitada extra de risco.
Nota: 8,1/10
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