
Primeiro livro de Literatura de Cura a “quebrar a bolha”, Meus dias na livraria Morisaki fez um enorme sucesso. Antes dele, o gênero era dominado por nomes americanos, pois seus títulos eram traduzidos pelo mundo.
Satoshi Yagisawa conseguiu mudar essa realidade, abrindo espaço para obras não apenas japonesas, como a dele. Mas também para escritores coreanos, que vêm se destacando no gênero.
Se você quer saber mais sobre a literatura de cura, veja o post sobre esse gênero aqui.
Meus dias na livraria Morisaki figurou em diversas listas de mais vendidos. Agora, cerca de dois anos após o lançamento no Brasil, ainda aparece em listas de livros mais presenteados da Amazon.
Em suma, é um livro de grande importância e muito comentado. Por isso, depois de fazer algumas listas com ele, e ter lido outras literaturas de cura menos conhecidas, achei que era hora de descobrir essa história.
O início da história
Takako, uma jovem de 25 anos, tem uma vida um pouco solitária, mas tranquila. Ela tem um bom trabalho, e por meio dele conheceu Hideaki, seu namorado. O relacionamento parece ir bem, mas tudo muda quando o rapaz conta que irá se casar. Contudo, ela não é a noiva.
À primeira vista a situação já é ruim, mas fica ainda pior quando a jovem descobre que a noiva é outra colega de trabalho. Pequena, bonita e graciosa, ela é tudo que Takako queria ser.
Em retrospecto, percebemos alguns pontos preocupantes do relacionamento. Os dois só se encontravam em lugares longe do trabalho, e sempre iam à casa dela.
É dessa forma que Takako decide se demitir, para se afastar de toda essa situação. Então, sozinha e sem emprego, não sabe como vai se manter, e passa dias e noites dormindo.
A vida na Livraria Morisaki
Até que, eventualmente, recebe uma ligação que a pega de surpresa, vinda de seu tio Satoru. Sabendo da sua situação complicada, ele oferece um lugar para a garota morar por um tempo, e troca de um trabalho de meio período.
Contudo, os sentimentos da garota em relação ao tio não são os melhores. Ainda que tenham sido bastante próximos durante a sua infância, acabaram se distanciando na idade adulta, passando anos sem contato.
A visão que Takako tem do tio é de um adulto infantilizado, que foge das suas responsabilidades. Ela não gosta de suas brincadeiras e piadas fora de hora, entendendo como algo impróprio.
Apesar disso, por não ter outra perspectiva, se muda para a livraria do tio. A princípio, não gosta do local, do seu novo quarto simples e nem da quantidade de livros que há por lá.
A Livraria Morisaki está, há três gerações, na família, e fica em um prédio antigo em Jinbôchô, o bairro das livrarias de Tóquio. É uma região com cerca de 200 lojas de livros, um paraíso para os leitores.
Mas nada disso importa para Takako, que se mantém indiferente ao novo trabalho, clientes e ao tio, dormindo treze horas por dia. Até que algo muda: em uma noite, com dificuldades para pegar no sono, resolve ler um dos intermináveis volumes da livraria Morisaki.
Novos laços e histórias reveladas
E é dessa forma que, aos poucos, a jovem vai voltando à realidade e dando uma chance de conhecer novamente o tio. É ele quem a leva para explorar a região, apresentando-a a uma kissaten local.
A kissaten é como uma casa de chá ou café, onde as pessoas passam seu tempo com tranquilidade. Seu tio conhece todo mundo, e apresenta a jovem ao dono e funcionários.
É dessa forma que a protagonista firma uma forte amizade com a barista do local, proporcionando novas perspectivas. Afinal, tudo aquilo que ela achou horrível na Livraria Morisaki e em seu quarto pode ser o ideal de outra pessoa.
Ao mesmo tempo, o relacionamento com o tio vai se tornando mais próximo. Ele conta sobre ter viajado o mundo e conhecido a tia Momoko, que acabou saindo de casa, de um dia para o outro, deixando apenas um bilhete.
E sobre assumir a livraria, algo que não imaginou fazer, mas que foi necessário após o pai ficar doente. A livraria estava com muitas dívidas, e foi o tio quem conseguiu salvá-la.
Uma cena muito divertida do livro ocorre quando Takako conta ao tio sobre o fim do relacionamento. Eles resolvem confrontar o ex-namorado, aparecendo em sua porta em um dia chuvoso. Ainda que não ocorra como o planejado, cria uma sensação de encerramento.
Reflexões e impressões finais
Não vou me alongar na história, pois acabaria contando o enredo inteiro. Contudo, basta dizer que os dois seguem se aproximando e se ajudando com o que precisam.
O tio não é a pessoa despreocupada e infantil que ela pensa, esse preconceito vai sendo quebrado aos poucos. Os dois são muito diferentes em suas formas de encarar a vida, e isso fica escancarado no início.
Mas o que vamos percebendo aos poucos, é que não há um roteiro certo para cada um de nós. Nós fazemos nossa própria história, e ela não deve ser colocada em uma caixinha e rotulada como certa ou errada.
Mesmo porque Takako também cometeu seus erros e teve que aprender com eles. E o seu julgamento só dificultou tudo.
É uma história muito bonita, que me fez pensar bastante sobre fins de ciclos. Não vou dar spoilers, mas a parte em que a tia Momoko volta, mostra momentos bastante profundos. E aqui, outras certezas precisam ser repensadas.
Talvez eu tivesse com expectativas muito altas para esse livro por tudo que comentei no início desse texto. Creio que teria aproveitado melhor se isso não tivesse acontecido.
Mas, ainda assim, foi uma leitura bem boa. Não consegui me ligar tanto a protagonista, mas gostei muito do tio Satoru e da tia Momoko, a parte mais “doidinha” da família.
É um livro que talvez não prenda tanto, mas deixa o coração quentinho e oferece bons ensinamentos.
Nota: 7,5 /10
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