
Um clássico das casas assombradas que quase passou despercebido
Por incrível que pareça, apesar de já ter lido bastante terror e conhecer muitos outros títulos (tive uma fase forte no gênero), demorei muitos anos para ouvir falar de Elementais, de Michael McDowell. É um clássico do subgênero de casas assombradas, que tem feito muito sucesso tanto na literatura quanto no cinema. As edições da DarkSide são lindas, e neste caso, não é diferente. A capa, com um toque psicodélico, chama bastante atenção.
Um começo fora do padrão, com toque de comédia e bizarrice
O início é bem alternativo: tudo começa em um velório. A escolha parece fazer sentido, considerando que o autor também escreveu o roteiro de Os Fantasmas Se Divertem. Esse detalhe empresta à obra uma atmosfera única, que mistura comédia, terror e suspense, trazendo à tona comportamentos estranhos e, por vezes, questionáveis.
A morta é Marian Savage, matriarca de uma família rica do sul dos Estados Unidos. Ela teve três filhos, mas, para seu desgosto, uma virou freira e outro morreu. Permaneceu por perto apenas Dauphin, o filho de quem menos gostava. Marian era grande amiga de Big Barbara, que tem dois filhos: Leigh, casada com Dauphin, e Lucker, pai de India. Todos comparecem ao velório, junto com Odessa, a empregada da família. O sotaque e os modos de falar reforçam a ambientação sulista e criam uma identidade marcante.
Casas, segredos e o verão em Beldame
As duas famílias sempre passaram os verões em Beldame, um lugar isolado e cercado por regiões que alagam com a maré cheia. É para lá que Dauphin decide ir, acompanhado dos McCray. No entanto, antes mesmo de chegarem, India começa a perceber coisas estranhas relacionadas às casas. Seu pai nunca comentou nada sobre elas, apesar de ter frequentado o local por muitos anos.
O pano de fundo aqui é bem diferente do que estamos acostumados em histórias de casas assombradas. Em vez de ambientes escuros e fechados, temos praia, areia, sol e lagoa. A terceira casa, aquela que ninguém quer reconhecer como sua, está sendo lentamente tomada pela areia. Ainda assim, ninguém quer falar sobre ela. Mas até quando será possível ignorar o que está bem diante dos olhos?
Uma assombração fora do comum e um suspense crescente
Aos poucos, acontecimentos do passado vêm à tona, ao mesmo tempo em que o presente se torna cada vez mais ameaçador. Afinal, o que está acontecendo naquela casa esquecida? Será que os moradores estão realmente seguros, estando a apenas uma casa de distância?
Apesar de não me apegar a todos os personagens (alguns são bastante caricatos e têm pouco desenvolvimento), torci, sim, por alguns deles. O livro consegue transmitir uma ótima sensação de claustrofobia, mesmo se afastando da ideia clássica de aprisionamento físico. O terreno é grande, aberto, mas ainda assim opressor.
Um terror atmosférico, longe dos clichês
Há descrições mais sangrentas e detalhadas, embora sem exagero. Não chega a ser um livro gore. A trama surpreende pelos caminhos que escolhe e pela forma como resolve seus mistérios. A origem da assombração é bem construída, revelando partes e deixando outras em aberto, o que mantém o clima de inquietação até o fim.
Ainda assim, senti que a falta de profundidade em alguns personagens prejudicou o impacto de certas perdas. Tudo começa a acontecer mesmo da metade para o final, o que pode tornar a leitura mais lenta no início. No entanto, vale a pena insistir: Elementais é uma boa história, diferente do comum, e que consegue manter o leitor curioso até a última página.
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