Névoa Literária

Tudo sobre seus livros prefereridos

Extraordinária Cozinha dos Livros: Resenha

A Extraordinária Cozinha dos Livros, de Kim Jee-Hye, foi o meu primeiro contato com a literatura sul-coreana, entretanto, com a literatura de cura, ou ficção de cura, tive contatos anteriores, com A Livraria Mágica de Paris e O Maravilhoso Bistrô Francês, da alemã Nina George, que conquistou o mundo com seus livros reconfortantes.

Aqui, o sentimento é bastante próximo, mas somos transportados para um ambiente um tanto diferente das cidades da França: Soyang-ri, uma região rural e montanhosa que rende belíssimas descrições de suas árvores, flores, lago e outros elementos da natureza.

Yujin viveu por anos trabalhando incansavelmente em sua startup, até que ela foi vendida e a mulher passou semanas sem conseguir sair da cama. Ao ouvir falar de uma casa à venda em Soyang-ri, inesperadamente decide visitar o local. Gosta do que vê e, ali, cria a Extraordinária Cozinha dos Livros, um café e hospedagem literários onde as pessoas podem encontrar conforto junto a boas histórias.

Alguns personagens são frequentes nas histórias. Além de Yujin, temos Shiwoo, Hyeongjun e Serin, que trabalham ou passam a trabalhar no local.

Shiwoo é o primo da dona, jovem brincalhão e sempre alegre, que se formou em arquitetura, mas não conseguiu tirar a certificação para atuar na área. Hyeongjun é músico formado, mas também não conseguiu trabalhar com isso. Serin, amiga de Shiwoo, é aspirante a ilustradora e vive uma vida no automático, até conhecer a Cozinha dos Livros por intermédio do amigo da faculdade e passar a trabalhar ali.

Vidas entrelaçadas e corações aquecidos

O restante dos personagens muda. Vamos conhecendo os hóspedes, pessoas que passam pelo local, precisando aquecer seus corações e criar uma pausa para si. Em geral, cada capítulo é dedicado a um personagem ou grupo de personagens em sua história de vida, dores e estadia.

A primeira que conhecemos é Dain, uma estrela da música que estourou no país há alguns anos e se mantém no topo das paradas desde então. Sua avó morreu há três anos, e a antiga casa dela era justamente no terreno onde agora funciona a Extraordinária Cozinha dos Livros.

Vemos um diálogo entre o passado com a avó e o presente na nova construção, em que muitas coisas estão diferentes, mas outras se mantêm iguais, como a fundação do que costumava ser um depósito e hoje é o café. Vivendo com a saudade e o luto, e com sentimentos mistos sobre sua carreira, a visita de Dain ajuda a acalmar seu coração e a se conectar com essas emoções conflitantes.

Yujin e seus funcionários acolhem todos que aparecem à sua porta, por vezes, mesmo quando não há quartos sobrando. Além dos cenários belos que nos fazem imergir na história, desejando ver a vista deslumbrante que os personagens compartilham, a comida também tem papel importante em tornar tudo mais aconchegante. E por mais que eu não conheça todos os pratos citados, fiquei com vontade de experimentar um pouco de cada um.

Livros, tempo e acolhimento

Em muitas das passagens, os livros ganham destaque na história. Há diversas referências literárias nas conversas, eventos relacionados ao tema e uma programação fixa da hospedagem, como a sala com horário marcado para que as pessoas se reúnam e leiam ou escrevam. Yujin também presenteia seus hóspedes com recomendações de leitura conectadas aos seus gostos e necessidades.

Acompanhamos a passagem de um ano com esse vai e vem de histórias entrelaçadas, e vemos como Yujin, seus funcionários e a Extraordinária Cozinha dos Livros conseguem deixar os corações de quem passa por ela mais quentinhos e calmos.

Cultura, ritmo narrativo e outras experiências literárias

Por não estar habituada à leitura de títulos orientais, tive um pouco de dificuldade com os nomes dos personagens. Como li a história pelo eBook, as notas de rodapé vinham apenas ao final do capítulo, e senti que perdi alguns significados até chegar à explicação.

Possivelmente por essa questão cultural, também senti certo estranhamento com a passagem de tempo, que aqui muitas vezes não é explicitada. Em alguns momentos, tive a sensação de ter perdido uma explicação no caminho.

Esses pontos existiram, mas não atrapalharam minha leitura. Se eu for comparar com A Livraria Mágica de Paris, por exemplo (que li recentemente), esse é um livro mais linear, sem grandes reviravoltas, que mostra as histórias de mais personagens — ainda que de forma mais superficial.

Por outro lado, ele gera uma experiência ainda mais imersiva no cenário, ao descrever vividamente a comida e outras sensações de tantos personagens. Devo comentar também que comecei a ler Antes que o Café Esfrie e não terminei, achei parado e um pouco repetitivo. Isso não ocorreu em A Extraordinária Cozinha dos Livros, que li de forma rápida e empolgada. Mas creio que devo dar outra chance ao anterior.

Gostei muito dessa história. Me senti bastante conectada aos personagens e com vontade de visitar um lugar como este. Recomendo muito a leitura.

Nota: 9,5 /10

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *