
Atenção: este texto contém spoilers de Uma Janela Sombria!
Caso ainda não tenha lido o primeiro volume da duologia O Rei Pastor, confira antes a nossa resenha de Uma Janela Sombria.
O controle do Pesadelo e os primeiros impactos
Duas Coroas Retorcidas se inicia na sequência dos acontecimentos de Uma Janela Sombria, quando Elspeth Spindle perde a cabeça e sua mente é tomada pelo Pesadelo. Creio que isso é uma surpresa para a maioria dos leitores, pois, apesar de o livro nos preparar para isso acontecer, a história anterior era mais leve e sem tantas mortes importantes.
Assim, a finalização da duologia O Rei Pastor segue na linha do seu antecessor, com um sistema de magia que propõe se manter de forma mais contida, mantendo a história focada em um número limitado de personagens, sem expandir para mais famílias ou mesmo outros reinos. A história não se propõe a criar algo muito complexo que saia do controle, o que funciona bem aqui. Isso não me incomodou.
Pois bem, Elspeth precisou pedir ajuda ao Pesadelo uma última vez para se salvar de Hauth, do Clínicio, e de seus planos para controlar Ravyn. Assim, acabou perdida em sua própria mente, que, junto com seu corpo, agora são controlados pelo monstro. Ela passa boa parte do livro sem consciência, em um cenário de praia, recuperando sua memória aos poucos.
Capítulos divididos e novos destaques
Assim, o foco do livro muda, deixando de ser apenas a garota perdida. Quando o grupo se divide, temos capítulos de Ravyn, que parte junto a Jespyr, Pesadelo e outros personagens, e ainda mais capítulos de Elm, que fica em Stone com Ione. O livro vai dando um grande destaque ao casal que os dois vão formando.
Elm aqui deixa de ser apenas o primo protegido de Ravyn e o personagem vai amadurecendo e criando seu destino. Conhecemos o seu passado e podemos ver outras faces de sua personalidade, que, no primeiro livro, ficou mais restrita ao seu lado desconfiado e ciumento.
Não achei necessariamente que foi um casal bem construído a princípio, pois me parece que algumas decisões do príncipe foram duvidosas, mas aos poucos fui gostando da dupla. Conhecer mais os traumas e desejos dos dois, que querem transformar o reino em um lugar melhor para seus parentes, foi bem interessante.
Elm passou por muita violência no castelo, com seu pai desinteressado e seu irmão brutamontes, que acreditam que a criação dos homens da família deve ser pela dor. Ione sofreu na mão do príncipe mais velho durante seu breve noivado, ficando presa à carta da donzela à força e tendo seus sentimentos retirados de si.
Grande parte da história dos dois é justamente na busca da carta, e também na tentativa de deixar Ione viva, já que ela agora é uma traidora. Esse é um casal mais “assanhado” do que Ravyn e Elspeth, mas continua a ser um livro sem cenas explícitas.
Revelações sombrias e o desfecho
A saga de Ravyn e do Pesadelo foi a mais interessante, trazendo muitas respostas do passado do reino, com toda a história do Rei Pastor e suas trocas por cartas. Como ele sempre buscava mais poder e não se importava em doar partes de si pelas trocas, mesmo que isso o tenha tornado um monstro ao final.
É interessante também porque o trajeto recria os passos do passado do Pesadelo, ainda como Rei Pastor, que ele fez com sua irmã no passado, perdendo-a para a Alma do Bosque. Aqui, Elspeth, em sua cabeça, cumpre o papel de sua consciência, fazendo com que o monstro repense suas ações e ajude a fazer com que o passado não se repita, e se redimindo, de certa forma.
O sistema de magia bate muito na tecla do equilíbrio e das histórias se repetindo, e isso fica ainda mais claro nesse livro. Já temos um bom panorama do reino e de toda essa construção de mundo, mas aqui temos algumas verdades sendo reconstruídas, respostas para muitas das perguntas que o primeiro livro deixou e aprofundamento dos acontecimentos.
Também descobrimos mais sobre o funcionamento da misteriosa bruma, da magia do Rei Pastor e de Ravyn, que talvez não seja tão simples quanto se imagina, e da família do rei, assim como do momento de seu massacre.
Os Rowan também são detalhados aqui, principalmente Hauth, que prova ser mais inteligente e ainda menos decente do que o esperado (e as expectativas já eram baixas).
Segredos do passado e encerramento da duologia
Grandes revelações do passado vêm à tona, entrelaçando a história de Blunder em presente, passado e futuro. Aqui, não temos grandes adições de novos personagens, mas sim o desfecho dos que já conhecemos, assim como do reino e sua magia, que ganham espaço quase como um personagem, e não apenas como moeda de troca e folclore.
Eu achei um bom livro, muito positiva a parte da história do Rei Pastor, de saber como as cartas foram criadas e como acabou como o monstro que nos é apresentado. Mas, as entradas de Elspeth perdida em sua mente foram um pouco cansativas, repetitivas.
O casal que ganha espaço como principal aqui começa de forma meio apressada, até forçada. Creio que eles poderiam ter tido algum tipo de desenvolvimento já no primeiro livro, pois algumas informações nos são ocultadas e só são mostradas quando eles já estão se relacionando. Assim, o desenvolvimento teria sido mais natural.
O livro tem alguns problemas de revisão, causando algumas trocas de nomes de casas e famílias, assim como outros pequenos erros, o que já aconteceu no primeiro livro, mas reparei ainda mais neste segundo.
Ainda assim, foi um bom encerramento de duologia, com personagens cativantes, sensação de perigo, atmosfera sombria, um sistema de magia bastante interessante e diferente, que amarrou bem as pontas soltas de seu antecessor. Recomendo a leitura.
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