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Resenha – A Última Contadora de Histórias

Uma edição belíssima que chama atenção

A Última Contadora de Histórias, de Donna Barba Higuera, chama atenção de imediato com sua capa, que é realmente muito bonita. A estética da edição é impecável, com ilustrações a cada novo capítulo. Porém, apesar da beleza gráfica, a história não me prendeu como eu esperava. Mas afinal, do que fala este livro?

Nossa protagonista é Petra Peña, uma garota de 13 anos muito próxima de seu irmão, Javier, e de sua avó, Lita. Esta última é uma contadora de histórias que encanta a neta com seus cuentos, narrativas sobre coragem, amor, vida e até histórias que ajudam crianças a dormir. Esses contos foram passados por seus antepassados e agora florescem na imaginação da idosa.

Lita reconhece que Petra deseja ser uma contadora de histórias, mesmo que seus pais, um geólogo e uma botânica, esperem que ela siga uma carreira científica. Por isso, a avó orienta e inspira a neta a também assumir os cuentos e criar suas próprias narrativas. A história intercala o momento presente com flashbacks da infância de Petra, incluindo uma exploração a uma mina com o pai e uma caça às “fadas da floresta” com a mãe, que buscava uma planta rara.

A vida pacata de Petra logo muda por completo com um evento global: um cometa está prestes a colidir com a Terra. O ano é 2061. Nesse ponto da trama, Lita transforma o terrível acontecimento em um dos contos mais bonitos da narrativa, sobre um filho perdido que enfim reencontra sua mãe.

Fuga espacial, controle e a força das histórias

A maioria das pessoas não foi avisada sobre o fim iminente do mundo. Enquanto o Coletivo aparece na televisão prometendo apagar os erros do passado, grupos poderosos organizam a fuga para um novo planeta. A família de Petra consegue uma vaga em uma das naves que irão partir, mas sua avó, infelizmente, não é incluída.

Durante a fuga, com a situação caótica do embarque e tentativas de invasão, Petra é colocada em uma cápsula. No entanto, seu plug parece falhar. Ao invés de dormir, ela permanece consciente. Descobrimos que apenas duas das três naves previstas conseguiram partir com sucesso. Logo, algo estranho acontece: Ben, o monitor de Petra, compartilha diversos conhecimentos de folclore, mitologia e história, mas é misteriosamente atacado. O Coletivo assume o controle da nave.

O grupo quer implantar uma utopia onde não haja lembranças do passado, nem diferenças culturais ou individuais. Petra percebe os riscos dessas ideias graças a uma conversa entre seus pais que ouviu escondida antes da partida. Quando acorda, 375 anos depois, seu corpo foi alterado geneticamente e ela mal se reconhece. Sua pele é transparente, seus traços são bizarros, lembrando camarões gigantes, e tudo em sua aparência é estranho.

Petra logo entende que não pode parecer diferente dos colegas, todos com as memórias apagadas, pois isso a colocaria em risco. Os plugs inseridos em seus cérebros os tornaram especialistas em áreas técnicas necessárias para habitar o novo planeta, Sagan. As crianças começam a trabalhar sob a supervisão do Coletivo, mas Petra encontra nos contos uma possível saída: usar as histórias como forma de resgatar a memória e a humanidade de seus colegas, antes que seja tarde demais.

Potencial não alcançado — e uma leitura que não funcionou para mim

Apesar de ser um livro “bonitinho”, para mim, não passou disso. Tive bastante dificuldade de me envolver com uma protagonista tão jovem, ainda mais em uma ficção científica com atmosfera apocalíptica, que teoricamente deveria me provocar tensão e medo. A história tem uma premissa forte, mas me pareceu suavizada demais.

Acredito que esse livro dialogue mais com leitores mexicanos ou seus descendentes, pois traz muitas referências culturais. Há diversas menções a pratos típicos, além de elementos do folclore latino. Como não compartilho esse pano de fundo, nem cresci ouvindo histórias dos meus avós como a protagonista, a trama não me comoveu como talvez deveria.

Outro ponto que me incomodou foram os erros de digitação. Isso não deveria acontecer em um livro com esse valor de mercado. A edição é bonita, mas isso deveria ser o mínimo, não o diferencial. Também achei o livro pequeno — estimo que tenha cerca de 200 páginas de texto efetivo — o que faz com que a história pareça rasa. Há promessas de grandes ganchos narrativos, mas as resoluções são rápidas e pouco impactantes.

Gostaria de ter gostado, mas infelizmente não gostei. A proposta é boa, os elementos visuais encantam, e o uso das histórias como resistência é uma metáfora potente. Ainda assim, a execução me deixou distante, sem emoção e sem conexão com os personagens.
Nota: 6,0

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