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Resenha-Uma janela sombria: Magia e Cartas

Uma magia sombria em um reino ameaçado

Uma Janela Sombria, de Rachel Gillig, abre a duologia O Rei Pastor. Trata-se de uma romantasia gótica voltada ao público jovem adulto. A história mistura conto de fadas sombrio, intrigas políticas, magia proibida e segredos familiares, tudo isso com uma construção de mundo envolvente.

A trama se passa em um reino ameaçado por uma névoa mágica que cresce a cada dia. Ela espalha uma magia ambígua e perigosa, como o livro repete: “nada de graça vem”. Um de seus efeitos mais cruéis é a infecção, uma doença que atinge principalmente crianças e jovens. Quem sobrevive ganha poderes estranhos e perigosos, mas paga um preço: a degeneração física ou mental.

Além da degeneração, os infectados precisam se esconder. O rei caça todos aqueles que sobreviveram à infecção. É o caso da protagonista, Elspeth Spindle. Infectada aos 11 anos, ela vive com os tios e primos, afastada da cidade. Sua relação familiar tem traços de Cinderela: madrasta má, meias-irmãs intrometidas e um pai ausente. Sua mãe morreu após a infecção. Já seu pai, ex-capitão dos Corcéis (a guarda real), a mandou embora ao formar uma nova família.

A magia do livro também se manifesta por meio de cartas. Essas cartas foram criadas pelo Rei Pastor, um personagem mítico que trocou parte de sua alma por poderes mágicos. As Cartas da Providência oferecem habilidades únicas, invisibilidade, beleza, verdade forçada, mas trazem consequências sombrias quando usadas em excesso.

Elspeth guarda um segredo ainda maior: ao tocar uma dessas cartas, passou a dividir sua mente com uma entidade conhecida como “o Pesadelo”. Esse ser misterioso permite que ela enxergue as cartas como auras coloridas ao redor das pessoas.

Segredos, profecias e a construção do casal

A tranquilidade de Elspeth acaba quando dois eventos mudam sua vida. Primeiro, ela é atacada por bandidos na floresta. Depois, sua família decide levá-la a uma festa no palácio do rei. Lá, ela conhece Ravyn Yew, o capitão dos Corcéis, justamente quem deveria capturá-la. Mas a surpresa é maior: Ravyn e seu irmão, Emory, também são infectados.

Emory está em estágio avançado de degeneração e corre risco de morte. O rei quer usar o sangue dele para cumprir uma antiga profecia. Ravyn, junto com sua família e aliados, Jespyr, Elm (o príncipe rebelde) e outros, decide cumprir a profecia por conta própria, poupando Emory. Para isso, precisam reunir as Cartas da Providência e fazer outro sacrifício. Elspeth, com sua habilidade única, torna-se essencial.

A relação entre Elspeth e Ravyn começa com desconfiança. Ambos vivem às sombras da infecção e dos segredos que ela trouxe. No início, ele precisa dela por interesse, e ela deseja ajudar, cansada de se esconder em um mundo que caça pessoas como ela. À medida que os dois se aproximam, a confiança cresce. Ravyn revela um lado diferente, e Elspeth percebe que compartilham traumas semelhantes.

A missão deles envolve traições ao rei e perigos constantes. O romance se desenvolve de forma lenta, mas cativante. Quando finalmente se aproximam, o leitor já está torcendo por eles.

Pontos fortes, fragilidades e recomendação

O livro apresenta um universo mágico coeso, com regras bem construídas. As cartas são criativas, mesmo que seus efeitos nem sempre sejam claros. Para aproveitar a leitura, o ideal é não se apegar demais às descrições técnicas de cada carta. Deixe-se levar pelas descobertas da história.

Alguns personagens secundários são mal aproveitados. Os pais de Ravyn desaparecem por longos trechos. Jespyr tem mais presença, mas poderia ter sido mais desenvolvida. Apesar disso, o enredo se mantém forte. Elm, Ione e Emory são personagens marcantes. Já o rei e seu sucessor despertam raiva imediata, cumprindo bem o papel de antagonistas.

A protagonista, Elspeth, às vezes demora para perceber certas situações. Isso pode ser frustrante, mas também condiz com sua criação isolada. O Pesadelo, a entidade em sua mente, é um acréscimo interessante, embora merecesse mais destaque.

O romance entre Elspeth e Ravyn convence, ainda que demore para acontecer. Quando se desenvolve, ganha força e entrega emoção. No geral, Uma Janela Sombria traz uma proposta envolvente, com atmosfera sombria e um sistema mágico que se destaca dentro do gênero.
Recomendo para leitores que gostam de romantasias densas, personagens feridos por dentro e uma dose generosa de magia perigosa.

Nota: 8,5/10

Uma resposta para “Resenha-Uma janela sombria: Magia e Cartas”

  1. […] Atenção: este texto contém spoilers de Uma Janela Sombria!Caso ainda não tenha lido o primeiro volume da duologia O Rei Pastor, confira antes a nossa resenha de Uma Janela Sombria. […]

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