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Terror no Overlook: Resenha – O Iluminado

A imagem mostra a capa do livro "O Iluminado" de Stephen King, com um destaque para o título em letras vermelhas e um cenário que remete a uma área de serviço ou portão, com uma madeira e uma porta com a palavra "REDRUM" escrita em vermelho. O livro está relacionado ao hotel Overlook, conhecido por sua atmosfera macabra na história.

O Iluminado, de Stephen King, não é um livro fácil, mas é sim um livro muito (muito!) bom. Ele incomoda, passa devagar, dá a sensação de termos lido muito mais páginas do que realmente lemos. A famosa história do hotel Overlook é densa, desperta raiva desde o princípio, e não apenas quando o terror se intensifica.

É uma daquelas histórias que você precisa ler pelo menos uma vez na vida. O filme é muito famoso e considerado uma grande obra, com cenas icônicas que caíram no imaginário popular. Ainda assim, muitos não o veem como uma boa adaptação, já que ele se afasta bastante da obra original. O diretor alterou diversos elementos importantes, o que compromete a compreensão do que realmente acontece aqui.

Começamos conhecendo a família Torrance: Jack, Wendy, um jovem casal com um filho de 5 anos, Danny. Eles estão com sérios problemas financeiros depois que o patriarca perdeu o emprego. Se mudaram para outra cidade, em um apartamento pouco confortável, onde constantemente ouvem a vizinha apanhando do marido.

Aos poucos, entendemos que a família enfrenta problemas que vão além das questões financeiras. Sob o casal paira a sombra de seus pais. O pai de Jack já morreu, mas foi um alcoolotra que batia nos filhos e na mulher, criando em casa um clima de terror. Wendy ainda tem a mãe, que sempre sentiu ciúmes da filha com seu pai, culpando-a pelo fim de seu casamento.

Antes do hotel: os fantasmas da vida real

Jack vem aos poucos seguindo o caminho de seu pai. Se tornou alcoolotra, e quando bebe fica agressivo com o filho e a mulher (mas sóbrio também sente raiva). Em um ataque de fúria regado a cerveja, agrediu o filho quebrando seu braço. Ele costumava beber com seu amigo Al, entretando, após um acidente de carro os dois viram abstêmicos.

Danny é uma criança diferente, que consegue ler os pensamentos de seus pais e ter vislumbres do futuro. Porém, quando usa seus poderes desmaia, fica catatônico ou tem outra reações similares. Os episódios preocupam fortemente seus pais, que tem muito medo pelo filho e não acreditam em seus dons.

Wendy é quem se preocupa mais, e leva em conta toda a situação em que o filho está submetido. O garoto foi afastado dos amigos que tinha na cidade anterior, sem frequentar uma escolinha e sofrendo com o mau gênio do pai, que o garoto não percebe ter atitudes erradas. Wendy também sente muitos ciúmes dos dois, já que o garoto é muito ligado ao pai, apesar de tudo.

O contexto do desemprego de Jack é mais um motivo que me fez desgostar do personagem. Como professor de inglês, ele liderava a equipe de debates. Um dos participantes gaguejava durante as atividades, e por isso ele o retirou do time. Extremamente chateado, os dois tiveram um embate. Pouco tempo depois, Jack pega o garoto furando os pneus de seu carro, e espanca o jovem.

O Overlook e o início do fim

Obviamente, ele perde o emprego, apesar dos esforços de seu amigo Al, que é muito influente e faz parte do conselho da escola. Depois do episódio, tem dificuldade para encontrar um novo trabalho, já que a demissão por mau comportamento pesa contra Jack. É nesse contexto que o homem se encontra quando recebe outra chance de seu amigo, para ser o zelador do Hotel Overlook.

Mas esse não é um cargo comum de zelador, pois o Overlook, durante vários meses de inverno, fica totalmente isolado do restante da humanidade, coberto de neve. Tem apenas uma cidade próxima. Entretanto, durante a temporada de maior frio, a estrada não é limpa, impossibilitando completamente a passagem.

Toda a comunicação externa será feita com o telefone (que também não funciona no pior das tempestades), rádio e, para emergências, há um snowmobile. Para Jack a situação é interessante, pois quer terminar de escrever uma peça (o que considera ser o seu trabalho verdadeiro). Além disso, outras oportunidades no momento são inexistentes, o que o faz se agarrar a essa chance.

Estão, quando a família chega ao Overlook, estão buscando um recomeço. Jack está com o ego abalado, sem dinheiro, oscilando entre momentos de culpa e de autopiedade. O casamento com Wendy não vai bem, mas ela e o filho desejam que o homem fique feliz, e afinal, em um local isolado, ele não terá acesso ao alcool.

Um personagem importante é apresentado na chegada ao hotel: Hallorann, o chefe de cozinha. É ele quem explica a Danny que ele é um Iluminado, o mais poderoso que o cozinheiro já viu. Também descobrimos que o hotel tem figuras sombrias, fantasmas ali presos. Porém, ele não acredita que elas possam ferir o garoto.

Desespero crescente e personagens em colisão

Assim, o terror vai se criando, entre o local terrivalmente afastado, os fantasmas que o habitam, a família disfuncional e os problemas psicológicos de Jack, e uma espiral de loucura vai tomando conta das páginas. Conhecemos aos poucos o passado do Overlook, que abriga mais fantasmas do que o esperado.

O final do livro vai se tornando cada vez mais frenético, e passei basicamente a história inteira com ranço do personagem do Jack, que parece que faz questão de fazer tudo da forma mais errada possível (o homem não acerta uma, sério). O que, de fato, é a intenção do livro, mas pode tornar a leitura difícil em alguns momentos, pois chega a cansar.

Mas, de fato, é um personagem bem construído, que, mesmo fazendo muita m**, não é só mal ou só egoísta, e acreditamos que ele genuinamente sente amor pelo filho e pela esposa em vários momentos, apesar de, em outros, o ódio tomar conta de seu ser.

Wendy e Danny funcionam como contrapontos de Jack — o menino é completamente ingênuo, inocente e bondoso, com poderes que revelam coisas que ele ainda não entende. Já Wendy não aparece, a princípio, como alguém de personalidade forte. Ela até pensa em divórcio, mas não leva a ideia muito adiante. No entanto, à medida que a história avança, percebemos que é mais firme do que nós, ela mesma (e até o hotel) imaginávamos.

É uma ótima leitura, instigante, difícil de parar, e que nos faz devorar o final. Me senti bastante imersa e claustrofóbica no local isolado. Mas é importante começar essa história sabendo que ela é densa, não é para todos os momentos.

Nota: 9,5 / 10

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