Verdades do Além-Túmulo: Sobre a Morte

Verdades do Além-Túmulo é meu terceiro livro da Caitlin Doughty, e, primeiramente, tenho que confessar que sou fã dela. Para quem ainda não a conhece, ela é uma agente funerária, que se tornou famosa com vídeos no YouTube e também publicações de livros.

Sempre falando da morte com tom bem-humorado, Caitlin aborda o tema, considerado um tabu, com muita naturalidade. Além disso, gosto da forma sincera com que nos faz refletir sobre assuntos importantes e que, normalmente, tentamos evitar.

Afinal, como ela mesma comenta em seus livros, na vida moderna, nos afastamos cada vez mais dos corpos de entes queridos. Na antiguidade, e até algum tempo atrás, era muito mais próxima essa relação, enquanto, atualmente, é terceirizada aos serviços funerários.

Por isso, Caitlin nos elucida sobre muitas questões pouco comentadas. Nos tira dúvidas mórbidas e comenta sobre mitos, sejam eles reais ou não. Sempre trazendo um olhar de ciência e fatos.

Um FAQ sobre a morte, com perguntas de crianças

Enquanto Confissões do Crematório comenta sobre histórias reais do seu dia-a-dia como agente funerária, Para Toda Eternidade mostra como diferentes culturas lidam com a morte. Em rituais atuais e antigos, temos uma verdadeira volta ao mundo.

Verdades do Além-Túmulo, no entanto, é um pouco diferente, pois é como um FAQ. Enquanto responde perguntas de crianças sobre a morte, nos traz informações de forma didática e instigante.

Segundo a autora, as crianças são as que fazem as perguntas mais interessantes e sinceras, diferentemente dos adultos. Por isso, são os pequenos que enviaram todas as perguntas que vemos neste livro.

É legal também citar a edição, da Darkside Books, que é linda. Afinal, o tema e a autora tem tudo a ver com a editora. Em uma estética dark-mórbida-fofa, gostei bastante da capa e das ilustrações (no início e fim da história). Além disso, não peguei aqui erros de edição, algo que tenho visto com certa frequência na editora.

Curiosidades mórbidas e reflexões importantes

Basicamente o livro consiste em pequenos capítulos, com uma média de 5 páginas cada. Eles respondem a todas essas perguntas de crianças (mais de 40), e vou citar abaixo algumas das principais:

• Quando eu morrer, meu gato vai comer meu olho?
  A resposta é talvez. Pode ser que ele coma, sim. Os gatos têm muitos genes em comum com os leões, acredita? Mas os olhos não seriam a primeira parte que eles devorariam. E eu não vou entregar quais são, você vai ter que ler.
• O que aconteceria com o corpo de um astronauta no espaço?
  Depende. O corpo vai ser trazido de volta à Terra? Se sim, isso vai acontecer imediatamente? Ou vai ficar um período no espaço, e depois enviado? Ou vai ficar no espaço definitivamente?
• Se eu morresse fazendo careta, minha cara ficaria assim para sempre?
  Dificilmente, já que os músculos ficam flácidos após a morte.
• O que aconteceria se alguém morresse em um avião?
  Essa resposta me deixou com medo de viajar de avião de novo. Obviamente, se alguém passar mal, vão chamar médicos ou desviar o voo para atendimento. Mas, se a pessoa realmente bater as botas, ela vai continuar ali, do seu lado.
• Quando uma casa está sendo vendida, o dono tem que contar ao comprador se alguém morreu lá?
  Essa questão é bem focada nos Estados Unidos, pois depende muito de leis locais. Lá, isso varia de estado para estado, e também com o tipo de morte. Alguns obrigam apenas em caso de morte violenta, ou tornam obrigatório ao corretor contar caso seja questionado pelos compradores.

Verdades do Além-Túmulo como porta de entrada para falar sobre a morte (inclusive com crianças)

Além disso, também é importante comentar que esse livro também pode ser lido por crianças. No final, temos inclusive uma conversa de Caitlin com uma amiga sua, psiquiatra infantil. Além de comentar sobre o livro, falam sobre o luto infantil. É um jeito legal de introduzir o assunto com os pequenos.

Obviamente, não é um livro para devorar em uma tarde como algumas histórias antológicas. Mesmo porque entra em muitas questões escatológicas. Fui lendo aos poucos, digerindo as informações.

Se você tem muito nojinho de fluidos corporais e outras questões como fedor, talvez esse não seja o livro para você. Mas tudo é tratado de forma muito respeitosa e científica. Por isso, não tive problema algum com essas questões.

Em conclusão, recomendo muito a leitura! Não apenas deste livro, mas também de Confissões do Crematório e Para Toda Eternidade. A morte pode ser um assunto difícil, a princípio, mas é muito importante, então vamos falar dela!

Nota: 8,0/10